Archive for the ‘Portugal’ Tag
Soam vãos, dolorido epicurista,
Os versos teus, que a minha dor despreza;
Já tive a alma sem descrença presa
Desse teu sonho, que perturba a vista.
Da Perfeição segui em vã conquista,
Mas vi depressa, já sem a alma acesa,
Que a própria idéia em nós dessa beleza
Um infinito de nós mesmos dista.
Nem à nossa alma definir podemos
A Perfeição em cuja estrada a vida,
Achando-a intérmina, a chorar perdemos.
O mar tem fim, o céu talvez o tenha,
Mas não a ânsia da Coisa indefinida
Que o ser indefinida faz tamanha.
Texto: Fernando Pessoa
Foto: João Carvalho
Segue-se o silêncio, de vagões fantasmas e janelas sem gente, desprovidas de olhares e de histórias.
Deixo-me ficar, de pé, junto à linha do comboio, esperando ouvir o som enérgico dos teus passos, regressando, à medida que o sol se põe na linha do horizonte, pintando-me de um alaranjado que me incendeia. A estação está vazia, amorfa, como eu; despido de ti.
Um bando de pássaros esvoaça ruidosamente sobre a minha cabeça, desenhando formas desconexas que querem dar-me notícias tuas.
Perdi-te; ou nunca te tive.
Fecho os olhos, inspiro profundamente, sinto o perfume que inebria os meus sentidos e me tolda a mente quando (nos teus braços nus) descanso da vida e me canso contigo, em uníssono. À minha frente só os carris enferrujados de uma linha que afunila ao afastar-se e não sei onde começa (nem onde termina). Onde estás?
Olho em frente e procuro naquele farol de luz o brilho do olhar, que me enfeitiça ao fitar-me, e me ilumina na escuridão do caminho; sem ele não enxergo, sou mais um cego. Onde estás?
Preciso do toque dos teus lábios (finos), nos meus (quentes); quero humedecer neles e despertar para ti. Tudo ao redor parece mergulhar num silêncio atroz, indiferente ao bulício que faz estremecer o meu peito. Onde estás?
Não sinto o teu abraço quente, quero aninhar-me nele como em nenhum outro, como se o moldassem para mim (não sei quem), e me serena quando algum furacão me arrasta; poderia viver nele para sempre, bafejado pela brisa das tuas palavras sussurradas em surdina (longe do mundo), junto ao meu ouvido. Onde estás?
Ouço o apito, estridente, do comboio: vai partir. Espreito mais uma vez para o seu interior, percorro com o olhar todas as carruagens: está vazio. Dou um passo em frente; a vida não faz sentido.
Texto: Nuno Franco Pires
Foto: João Carvalho (Sta Eulália, Portugal, 2015)
19 de Agosto, Dia Mundial da Fotografia
“Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce”, Fernando Pessoa
Alte, Portugal, 2015
Cada dia é sempre diferente dos outros, mesmo quando se faz aquilo que já se fez. Porque nós somos sempre diferentes todos os dias, estamos sempre a crescer e a saber cada vez mais, mesmo quando percebemos que aquilo em que acreditávamos não era certo e nos parece que voltámos atrás. Nunca voltamos atrás. Não se pode voltar atrás, não se pode deixar de crescer sempre, não se pode não aprender. Somos obrigados a isso todos os dias. Mesmo que, às vezes, esqueçamos muito daquilo que aprendemos antes. Mas, ainda assim, quando percebemos que esquecemos, lembramo-nos e, por isso, nunca é exactamente igual.
Texto: José Luís Peixoto
Foto: João Carvalho
How many roads must a man walk down
Before you call him a man ?
How many seas must a white dove sail
Before she sleeps in the sand ?
Yes, how many times must the cannon balls fly
Before they’re forever banned ?
The answer my friend is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind.
Yes, how many years can a mountain exist
Before it’s washed to the sea ?
Yes, how many years can some people exist
Before they’re allowed to be free ?
Yes, how many times can a man turn his head
Pretending he just doesn’t see ?
The answer my friend is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind.
Yes, how many times must a man look up
Before he can see the sky ?
Yes, how many ears must one man have
Before he can hear people cry ?
Yes, how many deaths will it take till he knows
That too many people have died ?
The answer my friend is blowin’ in the wind
The answer is blowin’ in the wind.
Texto: Bob Dylan
Foto: João Carvalho (Arronches, Portugal)
Frio intenso, luzes de neón
Ruas vazias, olhos no chão
Faço um esboço de ti, de contornos sedutores
Seras tua minha luz que me apagou a voz
Eu não sei se vais ouvir
Quando eu gritar o teu nome
Eu não sei se vais pedir
Pra calar a tua fome
Eu não sei se vais cantar
E acordar os meus sentidos
Eu não sei se vais cumprir
O que tinhas prometido
Não tens rosto nem tens pele
Não há nenhum sinal de ti
És apenas o silencio
Que se perdeu por aqui
Eu não sei se vais ouvir
Quando eu gritar o teu nome
Eu não sei se vais pedir
Pra calar a tua fome
Eu não sei se vais cantar
E acordar os meus sentidos
Eu não sei se vais cumprir
O que tinhas prometido
Texto: Letra de música dos Classificados
Foto: João Carvalho (Forte de Santa Luzia, Elvas, Portugal)