” Sem pensar nisso, esperamos que os outros ouçam as nossas recordações com a mesma vontade que usamos para contá-las.” Texto: José Luís Peixoto
Foto: João Carvalho (Camino de Santiago, Abril de 2012)
Nota: A partir de hoje tenho um outro blogue dedicado inteiramente ao Camino de Santiago – “el camino de las estrelas”, podem aceder através do link que está na coluna á esquerda. Bem hajam!
É esta
No seu passo alegre
A cidade do meu andar
Que se escreve
Deliciosa
Diante do meu olhar
De cheiros amarelos
De giestas
Nas abas do teu vestido
Das festas
Num voo colorido
É fresca a tua boca
De madrugada
É de sol
A alvorada
Quem ler hoje o que escrevi
Quererá ver o que vi
Saberá o que li
Mas não como vivi
Deitar-se-à a adivinhar
Os olhos e o olhar
Os sapatos e o andar
Mas não o caminhar
Saberá a cor do olho
A pestana ou o sobrolho
Mas da seara apenas o restolho
Saberá a escrita feroz
A palavra veloz
Saberá o timbre e os nós
Mas não a voz
Cultivará adivinhas
Palácio e casinha
Histórias da carochinha
Mas não saberá a minha
Verá imaginado ser
De altivo bem parecer
Mas não saberá do sentido
O simples ser
Texto: Raul CordeiroFoto: João Carvalho (Portalegre, Maio de 2012)
Bernardo Sassetti, pianista e compositor português, faleceu aos 41 anos, noticia o Diário de Notícias, citando fonte da editora do artista, a Clean Feed.
Bernardo Sassetti terá caído de uma falésia na zona de Cascais, onde se encontraria a tirar fotografias, avança o site do Expresso.
O músico completaria 42 anos em junho e, recentemente, tinha cancelado um concerto na Culturgest por motivos de saúde.
Casado com a atriz Beatriz Batarda, Bernardo Sassetti deixa duas filhas, de oito e seis.
Bisneto do Presidente da I República Sidónio Pais, Bernardo Sassetti era um dos mais conceituados músicos portugueses, deixando uma discografia extensa nas áreas do jazz e também das bandas sonoras.
” A paz existe. Os quartetos de cordas estão longe, os pássaros a planar de asas abertas estão longe, as ondas que se estendem e recolhem na areia das praias estão longe, a aragem a atravessar as copas das árvores está longe, a torneira pinga uma vez e – depois de muito tempo- outra está longe. O trânsito não existe, o telemóvel não existe, os vizinhos de baixo a gritarem ao domingo não existem, o telejornal não existe, as calculadoras não existem. Precisamos ter a humildade de reaprender a respirar.”
Texto: José Luis Peixoto
Foto: João Carvalho – Caminho de Santiago – Abril de 2012
” Tenho a curiosidade de saber que há muitos rostos diferentes no mundo. É incrível a quantidade de variações que são possíveis entre tão poucos elementos : olhos, nariz, lábios, pele, cabelo. São variações subtis, mas no momento de avaliá-las, como faço agora, são variações determinantes.”
♫Às vezes é tarde demais,
Para seguir em frente.
Às vezes é cedo demais,
Para voltar atrás.
E o tempo também é inverso,
À nossa vontade.
E às tantas o que nos atrai,
Já não é verdade.
Porque é fácil não estar
No lugar marcado.
E é tão fácil seguir,
O caminho errado.
Às vezes eu não salto,
Com medo de voar.
Às vezes eu não sonho,
Com medo de acordar.
Às vezes eu não canto,
Com medo de me ouvir,
Às vezes eu entendo,
Que é apenas um momento,
E o melhor há-de vir.♬
Texto: Letra de Música dos Classificados “Com medo de Voar”
Foto: João Carvalho – Caminho de Santiago – Muxia, Abril de 2012
Que é frequente persuadir-me De que sou sentimental, Mas reconheço, ao medir-me, Que tudo isso é pensamento, Que não senti afinal. Temos, todos que vivemos, Uma vida que é vivida E outra vida que é pensada, E a única vida que temos É essa que é dividida Entre a verdadeira e a errada. Qual porém é a verdadeira E qual errada, ninguém Nos saberá explicar; E vivemos de maneira Que a vida que a gente tem É a que tem que pensar.
Texto: Fernando Pessoa, in “Cancioneiro”Foto: João Carvalho (Estrada da Serra, Portalegre, Maio de 2012)
Vejo da minha janela azul
Da janela do meu quarto
A imensidão do céu a chorar
Com olhos de lágrimas sentidas
Chora lágrimas, pedras e destinos
Perdido no horizonte
Reclama num lampejar
A vida das nossas vidas
Caí do céu a verdade
Em forma de tempestade